A renda familiar e escolaridade do pais determinam a nota do Enade ou há outros determinantes que não imaginamos?

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Enade

Autores: Alexandre Nicolini (Ciência e Ação), Reinaldo Viana (UNIRIO)

Na última edição do EnadeDrops, exploramos ao longo de três edições o comportamento das notas ENEM e ENADE, levando em conta os cursos presenciais (PSN) e a distância (EaD). Em outras edições percebemos que algumas variáveis presentes no questionário socioeconômico possuem um interessante poder explicativo relacionado ao desempenho dos Concluintes: a escolaridade dos pais e a renda familiar. Em geral, quanto maiores a escolaridade e a renda, melhor o desempenho no exame, a ponto dos nossos leitores começarem a achar que são fatores determinantes. Será mesmo?

Nessa edição, investigamos cursos com notas 4 e 5 no Enade, sob a perspectiva dessas mesmas variáveis. No entanto, nossa meta é averiguar se há cursos com desempenho de excelência e ao mesmo tempo não necessariamente com o comportamento esperado dessas variáveis. Para isso, tomamos como exemplo a edição de 2015 no curso de Administração, uma vez que esse curso reúne o maior universo de cursos avaliados. Observe a distribuição dos conceitos por Faixa Enade na figura 1 a seguir:

Figura 1: Administração 2015 Faixa Enade

Nosso foco está primeiramente nos cursos com nota 5. Note o quanto esses cursos estão acima do desempenho nacional, conforme com a figura 2 a seguir:

Figura 2: Administração 2015 – Cursos com Faixa Enade 5

Os cursos com nota 5 estão afastados da média Brasil tanto no componente de Formação Geral (FG) quanto no de Formação Específica (FE), ainda que interessantemente este afastamento seja mais destacado no último componente. Observe na figura 3 a seguir o comportamento das variáveis referentes à escolaridade do pai e a renda familiar, considerando a distribuição dos Concluintes desses cursos:

Figura 3: Administração 2015 – Concluintes de cursos com Faixa Enade 5 – Escolaridade do Pai e Renda Familiar

É possível notar que nos cursos de excelência prevalecem os pais com ensino superior ou mesmo pós-graduação, mas o número de pais que só tem no máximo o ensino médio representa 50,94% dos estudantes. Mesmo considerando os pais com apenas o fundamental completo, vamos perceber que a incidência de egressos de famílias com baixo capital intelectual monta 22,22% do total, um percentual muito significativo entre os estudantes em escolas de ponta. A respeito da renda familiar, cabe destaque aos que ganham acima de seis salários mínimos. Da mesma forma, os estudantes em famílias com renda até 10 salários-mínimos são 54,92% do total, ao passo que os estudantes em famílias ganhando até 4,5 salários-mínimos são 26,03%.

Vamos focar agora nos cursos com nota 4. Observe que eles se encontram um pouco acima do desempenho nacional no que tange a Formação Específica, mas começa a se misturar com a Média Brasil quando falamos de Formação Geral. Verifique na figura 4:

Figura 4: Administração 2015 – Cursos com Faixa Enade 4

E quanto àquelas variáveis de sempre? A figura 5 a seguir mostra o comportamento das variáveis referentes à escolaridade do pai e a renda familiar.

Figura 5: Administração 2015 – Concluintes de cursos com Faixa Enade 4 – Escolaridade do Pai e Renda Familiar

Note que, diferente do que ocorreu nos cursos nota 5, prevalecem escolaridades mais baixas dos pais: ensino médio e ensino fundamental (antigos primário e ginasial) representam nada menos que 72,61% dos estudantes concluintes. Quando falamos em renda, destacamos que as famílias que ganham até 4,5 salários mínimos representam 44,76% dos estudantes.

Ao finalizar esta edição do EnadeDrops, fazemos questão de chamar atenção para um dado que estava encobertado pelas análises anteriores. Já nos parece obvio que os resultados variam diretamente em função da escolaridade dos pais e da renda familiar dos estudantes. Mas o que parecia implícito, que em IES de ponta se concentrariam apenas estudantes privilegiados, não aconteceu. Há uma massa muito grande de estudantes de origem humilde se formando nas melhores IES do Brasil – e certamente as auxiliando a se regozijarem com boas notas. Pode ser então que a pedagogia jogue um papel mais importante que a demografia, e afinal um bom desempenho continue dependendo prioritariamente de um bom projeto de educação. Vamos torcer! Até a próxima edição!

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