A vitalidade acadêmica dos Concluintes de Saúde, Agrárias e afins melhorou ou piorou ao longo das edições do Enade?

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Autores: Alexandre Nicolini (Ciência e Ação), Reinaldo Viana (UNIRIO)

Na última edição do EnadeDrops , o tema abordado foi motivado após o questionamento de um dos nossos seguidores, interessado em conhecer o desempenho dos cursos –  no contexto de uma série histórica. Abordamos as graduações das Ciências Sociais aplicadas e áreas afins, avaliadas nas edições 2006, 2009, 2012 e 2015.

A edição dessa semana dá continuidade ao tema, com foco nas graduações das Ciências Agrárias, Saúde e áreas afins, avaliadas nas edições 2004, 2007, 2010, 2013 e 2016.

Os dados necessários para a nossa análise estão disponíveis no site do Inep. No entanto, convém ressaltar que as planilhas liberadas nem sempre mantêm uniformidade de uma edição para outra, em relação ao nome dos cursos. Para exemplificar, o curso de Radiologia apareceu com as seguintes denominações: “TECNOLOGIA DE RADIOLOGIA” e “TECNOLOGIA EM RADIOLOGIA”. Foi necessário consolidar a nomenclatura para construir a série histórica.

Semelhantemente ao ocorrido na semana anterior, escolhemos cursos avaliados em todas as edições dentro do grupo. Estamos analisando o desempenho dos cursos nas duas provas:

  • Média FG (Média Brasil na prova de Formação Geral da graduação avaliada)
  • Média FE (Média Brasil na prova de Formação Específica da graduação avaliada).

A tabela 1 a seguir mostra exemplos de cursos do grupo das Ciências Agrárias, Saúde e áreas afins:

É interessante notar que no componente de FG o curso de Medicina em geral está afastado das outras graduações em cerca de 10 a 15 pontos positivos, diferença tal que tem sido mantida ao longo das diversas edições do exame. Essa comparação apenas corrobora o que temos dito sobre o favoritismo do egresso de Medicina: ele não é só bem selecionado como vem de famílias com melhor nível educacional e de rendimentos.

Em relação à prova de FE, perceba que:

  • Entre 2004 e 2007, houve decréscimo na média nacional nos seguintes cursos:  Enfermagem, Fonoaudiologia, Odontologia e Zootecnia. O curso de Medicina, por outro lado, teve aumento em cerca de 13 pontos.
  • Entre 2007 e 2010, houve melhora no desempenho em somente dois cursos: Enfermagem e Farmácia.
  • Entre 2010 e 2013, os cursos que apresentaram decréscimo no desempenho foram: Farmácia, Medicina, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia e Zootecnia. O curso de Medicina apresentou decréscimo em 13 pontos.
  • Entre 2013 e 2016, somente os cursos de Fisioterapia e Zootecnia apresentaram decréscimo no desempenho. Por outro lado, o curso de Medicina apresentou substancial aumento em 21 pontos.

Para finalizar esta primeira análise, adicionamos quatro cursos tecnólogos, avaliados entre 2010 e 2016, conforme a tabela 2 a seguir.

Em relação à prova de FG, o curso de Tecnologia em Gestão Ambiental apresentou o melhor desempenho entre os cursos avaliados. Entre as edições 2010 e 2013 esses tecnólogos melhoraram o desempenho. No entanto, no último ciclo, apresentaram leve decréscimo.

Em relação à prova de FE:

  • Entre 2010 e 2013, o curso de Tecnologia em Agronegócios apresentou aumento no desempenho em cerca de 6 pontos.
  • Entre 2013 e 2016, destaque ao curso de Gestão Ambiental, com aumento no desempenho em 6 pontos.

Para finalizar essa edição do EnadeDrops , queremos ressaltar o quanto as provas de FE diferem de edição para edição. É público e notório que as Comissões de Referência que formulam a prova de FE mudam a cada três anos; isso modifica muitas vezes completamente a forma com que a Matriz de Referência do exame é concebida. Não existe uma constância de quais competências – o conjunto de Perfil, Recursos e Objetos de Conhecimento, nos termos inepianos – deveriam ser sempre avaliados para esta ou aquela carreira, ao contrário do que acontece com as áreas avaliadas pelo Exame da Ordem do curso de Direito.

Assim, a falta de padrões definidos – e consequentemente, a impossibilidade da comparação – explica bem mais as variações de desempenho dos egressos, para cima e para baixo, do que a eventualidade da IES ter estudantes melhores ou piores a cada ciclo. Outra variável pode ser bem mais robusta para explicar estas variações, como temos ressaltado ao longo desta trajetória: o nível de dificuldade das questões do Enade tem bastante peso para o estabelecimento da Média Brasil num dado curso.

Preparar os estudantes estabelecendo um alto nível de dedicação ao longo do curso continua sendo uma política importante; mas estruturar um sistema de avaliação que resguarde a comparabilidade das provas feitas e o acompanhamento do progresso dos estudantes, tanto na aquisição de competências profissionais como no aprofundamento dos domínios coletivos, certamente tem muito mais impacto por permitir fazer as devidas correções ao longo do processo de formação.

Na próxima semana vamos explorar o último ciclo e combinaremos nossas férias com vocês. Até a próxima edição!

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