Estamos formando mais engenheiros civis. Mas será que formamos melhores engenheiros civis?

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Análise do resultado do Enade

Autores: Alexandre Nicolini (Ciência e Ação), Reinaldo Viana (UNIRIO)

Nas últimas semanas, trouxemos aos leitores nossas reflexões sobre o desempenho do curso de Medicina nas edições 2013 e 2016 do Enade.

Nessa edição do EnadeDrops, adotamos uma linha de raciocínio semelhante mas com foco no curso de Engenharia Civil. Apesar da última avaliação ter sido em 2017, o Inep readequou as engenharias ao calendário de avaliações. Como consequência, as mesmas serão avaliadas já em 2019.

Muita gente se perguntou o porquê da mudança. Uma das razões – inclusive a que justificou a escolha da Engenharia Civil – se deu pelo fato de envolver, entre as engenharias, o maior volume de Concluintes: 21.655 em 2014 e 47.988 em 2017. Como vocês podem ver, o quantitativo mais que dobrou, o que altera muito a logística da aplicação.

Começamos nossa análise com base na Nota Geral da prova. Devemos lembrar que essa nota corresponde a uma média ponderada: 25% Formação Geral (FG) e 75% Formação Específica (FE). Os dados estão apresentados na tabela 1 a seguir:

Tabela 1 – Notas Enade 2014 e 2017 – Engenharia Civil

Note que, numa primeira análise, é possível perceber discreto decréscimo na Nota Geral. A maior variação ocorreu na prova de FG,  cuja média decresceu 4,8 pontos. No caso da FE, menos de 1 ponto. Sendo assim, poderíamos inferir que a performance do curso teve o mesmo comportamento ao longo de 2014 e 2017?

Precisamos de mais dados: vamos analisar as questões quanto ao Índice de Facilidade, o qual é calculado após cada edição do exame, de acordo com o percentual de acerto em cada questão objetiva, conforme tabela 2 a seguir:

Tabela 2 – Classificação das Questões de acordo com o Índice de Facilidade

Observe nas tabelas 3 e 4 a seguir as ocorrências relativas aos índices de facilidade, tanto na Formação Geral, quanto na prova de Formação Específica.

Tabela 3 – Questões de Formação Geral de acordo com o Índice de Facilidade – Engenharia Civil
Tabela 4 – Questões de Formação Específica de acordo com o Índice de Facilidade – Engenharia Civil

Uma breve análise das tabelas 3 e 4 permite concluir que:

Em relação à prova de Formação Geral, em 2014, a maior ocorrência foi de questões classificadas como “fácil”; em 2017, prevalência de questões classificadas como “médias”.

Em relação à prova de Formação Específica, em 2014, 18 das 27 questões (61%) foram classificadas como “difíceis” ou “muito difíceis”. Já em 2017, prevalência de questões “médias” e “difíceis” (81%).

Agora observe as notas de corte do curso de Engenharia Civil, no contexto das faixas (1,2,3,4,5) do Enade. A informação em cada faixa é referente às menores e maiores notas dos cursos, tanto no componente Formação Geral, quanto no de Formação Específica. Observe nas figuras 1 e 2 a seguir essa informação:

Figura 1 Notas de corte por Faixa Enade – 2014

Uma análise comparativa envolvendo figuras 1 e 2 permite concluir que, no caso da prova de FE, houve pouca variação nas faixas, algo esperado dado que, como vimos no início do artigo, a nota geral variou em menos de um ponto no ciclo estudado. Por outro lado, também vimos que a variação maior se deu em relação à FG. Note que, por exemplo, em 2014 a maior nota de FG dos cursos “Nota 1”no Enade foi 57 e que tal nota enquadraria o referido curso na faixa “Nota 2” em 2017

Para finalizar nossa análise, lembremos que as questões objetivas representam 75% da nota. Os 25% restantes estão proporcionalmente distribuídos nas cinco questões discursivas: duas de FG e três de FE. Assim, apresentamos ao leitor o desempenho do curso de Engenharia Civil ao longo do ciclo 2014-2017, conforme tabela 5.

Tabela 5 – Questões discursivas Engenharia Civil – Enade 2014 e 2017

É possível perceber, analisando os números apresentados na tabela 5, que houve:

– Formação Geral – pequenas variações ao longo dos períodos.

– Formação Específica – decréscimos acentuados no desempenho: cerca de 7 pontos em uma das discursivas, além de notas extremamente baixas em duas das três questões: estamos falando de notas equivalentes a 0,7 (discursiva II CE) e 0,2 (discursiva 3 CE) em uma prova valendo “dez” pontos.

Ao final dessa nessa edição do EnadeDrops,  vamos nos despedir com uma preocupação para as próximas edições: percebemos que o desempenho dos estudantes em 2017 foi abaixo de  2014, mas a última tabela nos apontou para o conhecimento específico como principal causa – justamente a parte da prova que mais se assemelha com os problemas práticos que um engenheiro civil vai enfrentar.. O que pode ter acontecido? Você, leitor, acredita que em 2019 essa situação irá se manter ou há forte tendência a melhorar? 

Até a próxima quarta-feira!

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