Os egressos de Engenharia Civil de 2017 tiveram uma prova mais difícil ou eles tinham mais dificuldade para fazer a prova?

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Análise do resultado do Enade

Autores: Alexandre Nicolini (Ciência e Ação), Reinaldo Viana (UNIRIO)

No EnadeDrops da semana passada, apresentamos estudo envolvendo os resultados do Enade de Engenharia Civil, edições 2014 e 2017, associando pesos distintos às questões objetivas, de acordo com o Índice de Dificuldade (ID). Tal análise permitiu comparar as provas ao longo das edições: em 2014 a prova de Formação Geral foi enquadrada em dificuldade Média tendendo a Fácil e em 2017, Difícil tendendo a Média. Já a de Formação Específica, em 2014 Média tendendo a Difícil e em 2017, Difícil tendendo a Média. Ou seja, não resta dúvidas que a prova de 2017 teve uma dificuldade maior percebida pelos estudantes; ou será que os estudantes tinham mais dificuldade para fazer a prova?

Nessa edição do EnadeDrops, de forma semelhante ao que fizemos no curso de Medicina, fechamos o ciclo da Engenharia Civil, apresentando os dados de três variáveis divulgadas no questionário socioeconômico: Escolaridade do Pai, Escolaridade da Mãe e Renda. Estamos falando de sobre 21.606 Concluintes presentes em 2014 e 47.982 presentes em 2017. Além disso, dos 539 cursos avaliados em 2017, 247 não participaram da edição de 2014. É impressionante verificar que houve mais do dobro de concluintes de uma edição para outra, ainda que o número de cursos tenha crescido menos, em torno de 80%.

Essa grande variação do número de egressos e IES corresponde ao período em que o Brasil crescia e demandava formações tecnológicas para sustentar tal desenvolvimento. Lembremos que os egressos de 2017 são os ingressantes de 2012 e 2013, quando a recessão ainda não havia nos colhido. Será que o perfil deste estudante também mudou, a ponto de justificar um menor desempenho que em 2014?

Escolaridade do Pai

A tabela 1 a seguir apresenta a distribuição dos Concluintes de 2014 e 2017 de acordo com o quanto os egressos declararam no Questionário do Estudante que seus pais estudaram:

Tabela 1 Distribuição Concluintes 2014-2017 de acordo com a escolaridade do pai

Perceba que não há diferença significativa. A escolaridade dos pais que fizeram o Enade 2017 é essencialmente a mesma escolaridade dos pais que fizeram a edição de 2014, exceção na categoria Ensino Superior – Graduação. Ou seja, vamos assumir que a escolaridade dos pais em 2014 era levemente superior ao dos estudantes em 2017.

Escolaridade da Mãe

Tabela 2 Distribuição Concluintes 2014-2017 de acordo com a escolaridade da mãe

Note que a escolaridade das mães dos Concluintes que fizeram o Enade 2017 é semelhante à escolaridade das mães dos que fizeram a edição de 2014. Da mesma forma, vamos perceber uma pequena variação a favor das progenitoras dos egressos em 2014.

Renda

Por fim, a tabela 3 a seguir apresenta a distribuição dos Concluintes de acordo com a renda que eles declararam:

Tabela 3 Distribuição Concluintes 2014-2017 de acordo com a renda

Aqui, começamos a perceber com mais propriedade mudança em relação ao perfil de renda dos Concluintes. Note que em 2014, 37% tinham sustento com até 4,5 salários mínimos. Em 2017, 59%. No outro extremo, em 2014 25% dos Concluintes tinham renda a partir de 10 salários mínimos. Já em 2017, somente 12%. Isso aponta para o fato que estudantes mais pobres tiveram acesso às carreiras tecnológicas, provavelmente com mais intensidade nas novas faculdades que foram avaliadas pela primeira vez em 2017.

Ao encaminhar esta edição para o final, parece que temos mais indagações do que certezas. Como já vimos, há uma baixa significativa na renda familiar declarada pelos egressos, e um decréscimo bem menor na escolaridade do pai e da mãe. Isso levaria a uma dificuldade maior dos estudantes, considerada a literatura científica e nossas análises prévias no EnadeDrops. Mas o quanto deve ser creditado a dificuldade inerente à prova e quanto merece ser creditado ao perfil do egresso? Será que os dados seguirão a tendência de 2016, uma vez que as turmas de 2019 já se formaram em plena recessão? Vamos conversando.

Até a próxima quarta!

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