O Enade é uma Corrida! Em que posição você está?

Autores: Alexandre Nicolini (Ciência e Ação), Reinaldo Viana (UNIRIO)

Traduzindo de forma simplista a complexa metodologia do Inep, o ENADE é uma corrida. Dela participam todos os cursos superiores que tem estudantes prestes a se formar. A questão é como se determinam os vencedores e os perdedores. Há vencedores com péssimo desempenho e perdedores com ótimo desempenho. E esse é um argumento que pode mudar completamente a forma como você vê a performance do seu curso – e consequentemente, da IES em que trabalha.

Ao contrário do que muitos ainda acreditam, o conceito ENADE de cada curso superior não tem relação com o fato dos estudantes terem acertado muitas ou poucas questões de forma absoluta na prova que fizeram. Na verdade, o conceito ENADE é determinado em relação ao afastamento relativo da sua IES do desempenho médio das IES no Brasil num dado curso. Analise o gráfico abaixo, que foi gerado especificamente para o curso de Medicina na edição 2016 do exame:

Percebe-se neste caso que a média nacional foi bem alta, 65,1% – um percentual atípico no exame da Medicina e bem superior às médias nacionais de 2013 e 2010. É uma performance radicalmente diferente da que foi vista no curso de Licenciatura em Matemática (ENADE 2014), cujos desempenhos absolutos foram bem inferiores, quase trágicos – a média nacional dos futuros professores de matemática ficou em 32,5%, exatamente a metade da média do curso de Medicina.

Diante dos gráficos, seria razoável supor que todos os cursos de Medicina tiveram conceitos bons e os de Matemática, conceitos ruins. Não é o que aconteceu, pois o conceito não está relacionado de forma absoluta ao número de questões que os estudantes acertaram nas provas do ENADE desses cursos, mas sim com o afastamento relativo da média do desempenho de todas as IES em cada curso superior. Veja o gráfico que mostra os desempenhos mínimos e máximos em cada conceito de Medicina no ENADE 2016:

Percebe-se que mesmo as IES que acertaram 59,20% no Conhecimento Específico (FE) do ENADE de Medicina derraparam no conceito 2, situando-se muito próximas daquelas que tiraram o conceito 3, para quem acertou 62,58%. Já no caso do curso de Matemática a distribuição ficou bem diferente:

Nesse caso, nota-se que apenas 30,40% de acerto no Conhecimento Específico (FE) foi o suficiente para determinadas IES comemorarem o conceito 4, enquanto as laureadas com o conceito 5 acertaram no mínimo 39,90% e no máximo 55,83% deste componente.

Ainda que tenhamos comparado edições diferentes do Exame, o que nos impediria de compararmos diretamente as notas de Formação Geral (FG), um dado de realidade fica muito claro aqui: no caso analisado, o melhor curso de Matemática do país teve um desempenho absoluto em Conhecimento Específico (FE) que não garantiria o conceito 2 na área de Medicina.

Por que isso acontece? É o tema da nossa próxima conversa!