O Enade de Medicina foi mais fácil ou os futuros médicos são mais bem preparados?

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DOCTOR

Autores: Alexandre Nicolini (Ciência e Ação), Reinaldo Viana (UNIRIO)

Nas últimas semanas tivemos nosso momento de “parem as máquinas”, o que ocasionou uma interrupção temporária na edição do EnadeDrops!

Faz algum tempo que tentamos encontrar uma maneira de comparar, com algum grau de precisão, o grau de dificuldade das provas do Enade. Nessa edição do EnadeDrops, iniciamos uma série de reflexões originadas a partir do questionamento de diversos gestores acadêmicos, muitas vezes debruçados na desafiadora tarefa de comparar as provas do Enade ao longo de dois ciclos.

Por exemplo, no contexto dos cursos da saúde, avaliados em 2013 e 2016, ao analisarmos os resultados de Medicina, é fundamental saber se em 2016 a prova foi mais fácil ou se os estudantes estavam melhor preparados. Uma vez que a prova é composta por Formação Geral (FG) e Formação Específica (FE), é natural olharmos para esses conceitos buscando uma resposta. Sobre essa ótica, a tabela 1 a seguir mostra um comparativo entre os resultados de Medicina.

Tabela 1 – Notas Enade 2013 e 2016 – Curso de Medicina

É possível perceber, olhando friamente os números apresentados na tabela 1, que houve um acréscimo no desempenho na edição de 2016, especialmente no que tange à Formação Específica. No entanto, poderíamos argumentar que a prova de 2016 foi mais fácil? Poderíamos dizer que os estudantes de 2016 estavam melhor preparados?

Entendemos ser conveniente analisar as provas de acordo com outra ótica: o Índice de Facilidade. Após cada edição do Enade, ele é calculado – a posteriori, naturalmente – segundo o percentual de acerto de cada questão objetiva. As questões são classificadas conforme tabela 2 a seguir:

Tabela 2 – Classificação das Questões de acordo com o Índice de Facilidade

Vale lembrar que a prova de Formação Geral possui oito questões objetivas, e a de conhecimento específico, 27.  Observe nas tabelas 3 e 4 a seguir as ocorrências relativas aos índices de facilidade, tanto na formação geral, quanto na prova de conhecimento específico.

Tabela 3 – Questões de Formação Geral de acordo com o Índice de Facilidade – Medicina
Tabela 4 – Questões de Formação Específica de acordo com o Índice de Facilidade – Medicina

Uma breve análise das tabelas 3 e 4 permite concluir que:

  • Em relação à prova de formação geral, em 2016, a maior ocorrência foram de questões classificadas como “fácil”; em 2013, a moda se deslocou para questões classificadas como “médias”.
  • Em relação à prova de conhecimento específico, em 2016, 14 das 27 questões (51%) foram classificadas como “fácil”. Outro dado interessante foi que 14% das questões foram classificadas como “muito fácil”. Ou seja, duas em cada três questões em 2016 foram acertadas por mais de 60% dos estudantes de medicina.

Outro ponto importante é analisar as notas de corte do curso de Medicina, no contexto das faixas (1,2,3,4,5) do Enade. A informação em cada faixa é referente às menores e maiores notas dos cursos, tanto no componente Formação Geral, quanto no de Formação Específica. Observe nas figuras 1 e 2 a seguir essa informação:

Figura 1 Notas de corte por Faixa Enade – 2013
Figura 2 Notas de corte por Faixa Enade – 2016

Uma breve análise comparativa das figuras 1 e 2 tomando por base a metade da escala de facilidade permite concluir que todas as faixas se situaram abaixo de 50% de acerto quando falamos do Enade 2013, à exceção do conceito 5, cujo mínimo foi de 54,6%. Já no Enade 2016, todas as faixas se situaram acima de 50% de acerto, à exceção do conceito 1, com 49,5% (!).

Para comparar os extremos, um curso conceito 5 no Enade de Medicina em 2013 teria nota de Formação Específica no mínimo igual a 54,6%. Mas tal nota o enquadraria na faixa 1 ao observarmos o desempenho dos cursos em 2016.

Como tamanha discrepância é possível, se segundo o Índice de Facilidade do INEP a prova de 2016 foi uma prova fácil com tendência a média dificuldade, enquanto a prova de 2013 segundo o mesmo índice foi média com tendência à fácil? Não parece basicamente a mesma coisa para vocês?

Não percam a próxima edição do EnadeDrops! Vamos propor uma nova forma de ver o Enade! Até a próxima quarta-feira!

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