A prova de Medicina de 2019 será fácil ou difícil?

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Autores: Alexandre Nicolini (Ciência e Ação), Reinaldo Viana (UNIRIO)

O EnadeDrops anterior abordou a hipótese de associarmos pesos distintos às questões da prova, beneficiando os estudantes e IES que conseguiram acertar as questões mais difíceis. Para tanto, atribuímos um grau de dificuldade para as questões a partir do Índice de Dificuldade, uma medida complementar ao já conhecido Índice de Facilidade trabalhado pelo Inep. Concluímos com nossa própria metodologia que em 2013 a prova de Formação Geral foi enquadrada em dificuldade Média e em 2016, Fácil tendendo a Média. De forma semelhante, a prova de Formação Específica foi enquadrada em 2013 como dificuldade Média tendendo a Difícil e em 2016, Média tendendo a Fácil.

Nessa edição do EnadeDrops investigamos a discrepância do desempenho (Nota Geral) dos concluintes de 2013 e 2016, pois não parece fazer nenhum sentido para nós que IES de Medicina que acertaram cerca de metade da prova tivessem tirado conceito 5 no Enade 2016 e conceito 1 no Enade 2013. É possível? Sim, porque os conceitos são calculados como um desvio da média do estudante brasileiro. É desejável? Não, porque perdemos a possibilidade de comparar o desempenho do estudante de Medicina ao longo do tempo e consequentemente avaliar o progresso da sua formação, tão cara para nossa saúde – com trocadilho, por favor!

Para isso, vamos recuperar pontos das discussões que conduzimos ao longo do segundo semestre de 2018. Se vocês bem se lembram, havia correlações já levantadas pela literatura em economia e educação que apontam variáveis fortes para o bom desempenho dos estudantes: a escolaridade dos pais e a renda familiar, que felizmente são pesquisados no questionário socioeconômico do estudante. Nossa hipótese é a seguinte: se estes dados forem dramaticamente discrepantes em 2013 e 2016, haverá razão para um desempenho tão diferente dos estudantes. Convém lembrar que estamos falando a respeito de 15.543 Concluintes presentes em 2013 e 15.685 presentes em 2016. Além disso, houve 12 cursos avaliados em 2016 que não participaram da edição de 2013. Ou seja, estamos falando de uma amostra muito semelhante!

Para este EnadeDrops, escolhemos três variáveis: Escolaridade do Pai, Escolaridade da Mãe e Renda. Para reforçar as nossas conclusões, além do desempenho associado a cada tema escolhido, recuperamos o percentual de Concluintes no contexto de cada resposta.

Escolaridade do Pai

A tabela 1 a seguir apresenta a distribuição dos Concluintes de acordo com o quanto seus pais estudaram:

Tabela 1 Distribuição dos Concluintes de acordo com o quanto seus pais estudaram

Note que não há nenhuma diferença significativa. A escolaridade dos pais que fizeram o Enade 2016 é essencialmente a mesma escolaridade dos pais que fizeram a edição de 2013, com diferenças insignificantes ou mantendo o percentual em duas faixas de escolaridade.

Escolaridade da Mãe

A tabela 2 apresenta a distribuição dos Concluintes de acordo com a escolaridade da mãe:

Tabela 2 Distribuição dos Concluintes de acordo com a escolaridade da mãe

Repare que esta variável é mais gritante ainda. A escolaridade das mães dos Concluintes que fizeram o Enade 2016 é idêntica à escolaridade das mães dos que fizeram a edição de 2013 em cinco das seis faixas pesquisadas, com diferença de apenas 1% no intervalo da 1ª à 5ª série.

Renda

Por fim, a tabela 3 a seguir apresenta a distribuição dos Concluintes de acordo com a renda que eles declararam:

Tabela 3 Distribuição dos Concluintes de acordo com a renda

Aqui, finalmente, vamos encontrar diferenças um pouco maiores nos percentuais declarados pelos estudantes, levantando uma ponta de esperança para uma explicação plausível no desempenho das duas edições. Uma olhada mais atenta, no entanto, nos faz perceber que as diferenças mais significativas se dão nas duas faixas superiores de renda, onde 53% dos estudantes de 2013 se concentravam contra 40% dos estudantes de 2016. Ou seja, considerada esta diferença e a literatura, o desempenho dos estudantes de 2013 poderia ter sido ligeiramente melhor, e não gritantemente pior do que os estudantes de 2016.

Ou seja, ao encaminhar esta edição para o final, vamos reunindo argumentos suficientes para afirmarmos categoricamente que a prova de 2016 foi completamente fora da curva comparada às edições anteriores. Podemos especular que, como esse é um sentimento geral na comunidade acadêmica de Medicina, é possível que a próxima prova em 24 de novembro pendule para o lado contrário, a Comissão de Referência estará atenta a esse fato e nenhum membro gostará de repetir o resultado de 2016. Você está preparado para o Enade 2019? Você sabe onde estão seus pontos fracos? Vamos conversando. Até a próxima quarta!

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